Ouglas gonçalves

"Para se escrever algo, precisamos viajar dentro de nossa alma e buscar todos os sentimentos possíveis, não apenas escrever por escrever, mas sentir o que se escreve...



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Jogos, novelas e brigas

Todos os domingos é assim, futebol na televisão, ás 16 horas da tarde. Os apaixonados por futebol se reúnem em casa ou em um bar que esteja passando ao vivo o jogo de seu clube.Se for grenal,os colorados se reúnem na Lancheria do Zé e os gremistas no Bar do Marcão, eles não se misturam, porque pode dar confusão.Mas o incrível é que no outro dia muitos trabalham juntos e são obrigados a trabalhar em conjuntos, onde a amizade prevalece mais que a rivalidade.
Já no meu caso é diferente,eu não posso assistir os jogos com os amigosna lancheria.Minha mulher não deixa, então assisto em casa.Passo a manhã toda dando atenção á ela, meio-dia almoçamos juntos, que romântico! Depois nos deitamos um pouco na cama, love e mais love, carinho e mais carinho.Mas quando o ponteiro do relógio para as 16 horas em ponto, começa o jogo.Eu a driblo como se fosse o adversário, pego o controle, ligo a tv e grito: - gooooollll!!!!!!!!!!!!!!!
Agora vou assistir ao meu jogo. Penso eu. Mas percebo que minha mulher se aproxima querendo mimos, eu até dou alguns mimos, mas quero assistir ao jogo do Inter. Então minha mulher fica irritada e começa a brigar comigo.

- Tu não me dá atenção!

- Eu te dou muita atenção! Só porque eu quero  assistir o jogo, tu fica inventando histórinha!

Ela pega o controle e desliga a tv. Eu fico mais indignado ainda e quando paramos de brigar, o jogo termina. Triste por não conseguir assistir ao jogo do Inter, eu só penso em me cobrar, durante a semana ela gosta de assistir novelas, penso eu, então já imagina o que vai acontecer né?

Segunda-feira: Não deixei assistir a novela, coloquei um filme no DVD. Ela até que não falou nada.

Teça-feira: Convidei para visitar uma senhora de idade que é uma amiga nossa de muito tempo atráz, ela estava com a tv estragada. Imagina a cara feia de minha mulher!

Quarta-feira: Faltou luz.

Quinta-feira: Nós tínhamos que ir á igreja,pois era santa ceia, a ceia do Senhor.

Sexta-feira: Último capítulo da novela eu desliguei o registro de luz e disse a ela que cortaram a nossa luz por falta de pagamento,pois me esqueci de pagar a conta.

Sábado: Repetição do capítulo anterior da novela,nós tínhamos que ir novamente á igreja,pois o sábado sempre foi sagrado para nós.

No domingo, hora do meu jogo e o Inter ia jogar contra o Grêmio na tv, pensei que ela ia brigar comigo, logo fez a pipoca e o chimarrão, sentou-se, achei estranho e perguntei:
- Você vai assistir ao jogo?

- Vou e vou torcer para o Grêmio.
Fiquei quieto e não falei nada. Eu sou colorado e ela estava com uma cara não muito agradável.

Conselho de avó

 Um dia desses escutava a minha avó,ela ali sentada em uma cadeira de madeira que tinha á anos,feita pelas mãos de seu falecido márido e a frente do velho fogão a lenha como de costume e também para se esquentar do frio.Me contava todas as histórias de namoros de seu tempo,também algumas de seus filhos namoradores.Foram algumas horas de conversas,ou melhor dizendo,de escuta,porque eu só escutava,mas prestei muita atenção,ela me contava com todos os mínimos detalhes,desde as mãos dadas até o lindo encontro de lábios românticos que desfrutavam o maravilhoso amor,do carinho que sentiam um pelo outro,da fidelidade e dos sonhos.
Do primeiro beijo,já sonhavam em casar,ficavam imaginando a entrada da igreja,o vestido da noiva e o terno do noivo,quão bonito era escutar as palavras de minha avó,por dentro dela passava um filme dos velhos tempos e a saudade do falecido,as vezes notava em seus olhos lágrimasque ficavam presas em redor de seus cílios,uma pessoa que passou a vida toda lutando juntamente com seu márido para dar o melhor aos seus filhos,hoje se sente um pouco abandonada,pois mora em uma casa sózinha sem seu márido,seus oito filhos se casaram,constituíram famílias e por volta dos 70 anos ainda consegue soltar um sorriso ao ver que seu neto parava para escutar a sua linda história.
Quando a minha avózinha se deparou que já tinha falado de tudo sobre seu tempo de namoro,ela olha para mim e pergunta: - Como está seu namoro meu neto?
Logo percebi que tinha que desabafar,fiquei um pouco tímido,um certo medo de levar um sermão,mas falei.
- Bah avó! eu venho empurrando meu namoro,ás vezes nós discutimos por mínimas coisas e ficamos sem se conversar por um bom tempo,Algum tempo depois nós voltamos,mas passa um mês,de novo discutimos.
E minha avó atenciosa as minha palavras disse:
- O meu neto! a avó te entende,eu também passei por isso.
- Passou por isso?
- Sim,passei! eu só não te contei,porque queria contar o mais importante que é o amor,a fidelidade,o carinho...mas com o tempo nós ficamos mais confiantes e o amor fala mais alto que qualquer coisa,mais alto que o ciúmes,que as brigas,etc.
- São fases da vida,elas passam.
Tenha paciência e se vocês se amam,futuramente serão felizes,é só questão de tempo.
Uma bela e longa história em uma tarde ensolarada e fria,pois era inverno,fiquei mais aliviado com os seus conselhos,sem minha avó perceber,me desloquei para a cozinha para tomar uma água e aproveitei para ligar pra minha amada e marcar um encontro com ela.
Saindo da casa de minha avó,ela me pergunta: - Ja vai netinho?
- Sim avó! quero me desculpar com a Gabi.
- Vai com Deus meu neto! volta outra hora e traz a namorada junto para tomar um chimarrão!
Me distânciei,estava com minha bicicleta e de longe avistava um belo sorriso de minha avó,á medida que ia me afastando.

Menino Gabriel

   Um menino de mais ou menos cinco ou seis anos,de uma família simples e humilde,brincava o dia todo com os seus amiguinhos da Rua Rosalina Fagundes.As crianças brincavam de pular corda,de pular sapata ou jogar amarelinha,pega-pega,esconde-esconde,sempre bem alegres.Vendo as crianças brincar me fez refletir a minha infância e tirei a conclusão que as brincadeiras sádias ainda estavam vivas e passam de geração em geração,mesmo com tanta tecnologia.
  Ao anoitecer entrei para casa,enquanto a mão olhava a novela das oito,eu lia um livro,o meu preferido.A Bíblia Sagrada.Algum tempo lendo e ouvi uma voz me chamando: - O tio!
 Uma voz de criança,então saí e dei de frente para o menino Gabriel e ele dizia assim: - Tem pon?
 -"Pon" é pão,mas como é uma criança,tinha dificuldades,pois estava em fase de aprendizado.
 - Tem pon tio?
 - Tenho sim,espera que o tio já tráz!
 Entrava eu,novamente para casa,deixei a porta aberta,peguei os pãezinhos ou os ponzinhos como Gabriel dizia e levava-os até ele.Quando olhava os olhos dele,percebia um olhar meigo e feliz ao mesmo tempo por receber aqueles pãezinhos,sorridente saía em direção á sua casa que é logo a três casas adiante da minha.A cena se repetia todos os dias e todos os dias os pãezinhos estavam preparados sobre a mesa.
"- O tio tem pon?"
Uma frase que marcou a minha vida.Quando me assentei á cadeira frente a mesa,o meu livro estava aberto no livro de Mateus,capítulo 14,versículo 13,onde falava da primeira multiplicação de pães e peixes.